Fundo do Mar

Antagonismo de sabores, sons, cores e vida. Quando ouvir sobre o fundo do mar, a mente viaja pelos corais e peixes multicoloridos. Dos mais frágeis aos perigosos. Dos minúsculos aos gigantes. A mente trilha caminhos bonitos e ilusões de bem-estar rodeados de calor materno. É assim que um feto sente? O impulsionar da pressão vinda de todos os lados, apertando e suprimindo.

As amarras dispostas em cada ponto do corpo, as variações dos sentimentos impulsionando e bombeando o sangue mais rápido.

Não. Quando a mente viaja para o fundo do mar é como o fechar de olhos. Sem cor, sem vida, sem movimento.  E o mundo sem ar sem som. Como um vegetal. Estender as mãos pelo desconhecido.

Nada.

Não há nada ao redor, mas tudo te espreita. O peito aperta o coração e manda inquieto: morra. Mas então a luz aparece. Distante e distinta. E você sabe que não é a salvação que vem. Não há coragem para falar, para interagir. As correntes rodeiam e impulsionam o corpo mais para o fundo.  Para um lugar que você sabe que não tem fim…. Não tem porque lutar. Não há dor ali, há ossos para roer e roer e roer e você não precisa se perguntar quem são ou o que foram.  Você sabe. Você sente.  Você entende.

E mesmo que tenha o conhecimento, mesmo que saiba o que tem que fazer. Que as palavras rodeiam sua mente e diz exatamente como agir, como viver. Não há reação.  As correntes te pressionam, o tempo passa, a luz alva vai embora. Ainda está remoendo. Ainda está doloroso. Mas não importa. Você já se acostumou com a dor. Dentes de tubarão ao seu lado. Basta erguer a cabeça e acabar com tudo. Mas não há coragem.  Não há forças para realizar o que deve ser feito.

Outra luz aparece, te ESPREITANDO, clamando. Você não quer. Não.  Você quer. Você anseia, só para finalmente perceber que você não sabe nadar. E quando busca por outra vida, busca ajuda e olha para o mundo ao seu redor. Ele está vazio. E você quer acreditar e ver os corais coloridos e viver entre eles.

Mas quanto mais anseia, mais caminha para o fundo. Arrastado pela correnteza que antes não existia. Aquela correnteza criada por ti. E você chora por dentro porque as lágrimas não funcionam aqui fora. Quando sobe até o topo para buscar ar, e olha a si mesmo. Oh dor, esta imundo, quebrado, inutilizado. Ninguém irá desejar algo fútil. E você quer se banhar para limpar essa podridão, mas sabe que se voltar para o único ligar que conhece, as águas do mar não serão a solução para pureza.

Então com ar o suficiente para mais um mergulho sem fim, desce, desce sem parar…

BF

05-2015

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