O Mestre

Há vários níveis hierárquicos. Distinguidos por sensações, por adequações. Há aqueles que são agradáveis, cheios de pompa e glamour.

Há aqueles que tem praticidade. Que servem para algo. Neles todos tocam, todos usam.

Há aqueles que não tem a mesma utilidade, mas desviam sua própria função em prol dos outros.

E existe ele, branco, sem função, sem adorno, sem conforto. Apenas ele. Isolado, desviado de qualquer outra atenção.

Quando alguém entra na sala, não repara nele, não quando ele está distante, solitário. Mas ele tem algo que qualquer outro não tem. Ele é mais do que branco, ele é colorido, reflete o cinza da sombra e as cores da parede. Ele é leve, é arrastado.

É colocado no centro. Ele em um grito silencioso, implora por atenção. E é usado. Pisam nele, sentem nele. Colocam coisas nele.

Mas durante horas dentro de sua real função ele comanda. Porque quando alguém o usa, todos voltam sua atenção à ele.

Ele é o mestre. Ele manda, fica imóvel servindo de trono. Mas ele realiza sua função, sem reclamar, sem brigar. As vezes em momentos de agitação, pisam em sua cabeça, o quebram. Jogam contra a parede em um ataque de fúria. Não importa, ele é o mestre, o diferente, o líder.

BF

05-2015

Ruminando o Chefe

O tempo corria solto e apenas o som das teclas se faziam presentes. O grupo de digitadoras, foi designado para ficar com o departamento de informática. A conversa entre os grupos não era comum. Cada qual compenetrado no seu próprio serviço. Apenas Vanusa olhava para o relógio do computador ansiando para que o horário que fechariam a empresa para atendimento de clientes.

O cursor piscava solitário, esquecido. Faltava cinco minutos. Cinco minutos para fechar a porta principal para clientes. Joyce, a técnica de informática batia os dedos contra a mesa de manutenção impaciente. O som combinante com o ritmo que o cursor piscava. Vanusa olhou para os dedos de Joyce. Olhou para todo o quadro que a técnica criava para si. Encostada na bancada, fones de ouvido com o som da música tão alto que todos ouviam os ruídos, ela batia com seus dedos como se tocasse um piano acompanhando o ritmo. Joyce sorria para si mesma enquanto ignorava completamente o mundo ao seu redor. Ela era a Rainha de seu mundinho. E estava preparando o seu ultimo compasso. Como se todos estivessem programados e interligados à um relógio, ao mudar de números para 17, a sala mudou imediatamente. Algumas digitadoras se espreguiçaram, algumas bateram com o rosto contra o teclado. Outra, levantou e começou a esticar as pernas, andando na sala minuscula. E Joyce? Tirou o fone de ouvido, ergueu o pingente de caveira e o mordeu. Quando olhou para Vanusa ela soltou a corrente e sorriu. O sorriso tomou todo o rosto, como se soubesse do segredinho dela. Como se soubesse que ela não tinha trabalhado tanto quanto todos os outros. Que enrolou a maior parte do tempo.

Vanusa abaixou o rosto envergonhada. Joyce esfregou as mãos, espreguiçou e com o fone abaixado em seu pescoço. Saiu aos saltos da sala. Diogo, o outro técnico da sala a acompanhou para longe das digitadoras.
Ficaram algum tempo longe da sala, mas ao voltar traziam dinheiro na mão. Diogo contava o que tinha às mãos e Joyce anotava em um pedaço de papel alguma coisa.

– Vavah você vem comigo na padaria?

Sem pensar duas vezes, apenas para sair daquelas quatro paredes, Vanusa saltou na direção dos técnicos. Em pouco tempo estavam caminhando para a padaria ao final da rua. Ela era naturalmente calada, e Diogo era o conversador, contando algo que ouviu ou sobre algum acontecimento da empresa. Joyce apenas sorria e afirmava algo, mas sempre olhava para Vanusa apenas para saber se ela estava acompanhando a história. Chegaram na padaria e pediram pães, apenas um para cada um, mortadela e queijo, também um para cada um. Nem mais nem menos. Suco de pó e voltaram para o serviço. Antes de voltar a empresa, Joyce parou Vanusa e desligou a música do MP3, tirou o fone e cada movimento era um passo para anunciar algo muito importante. O coração de Vanusa acelerou. O que seria?

– O chefe vai comer com a gente.

– … – Vanusa piscou – Quem?

– O Andrade.

Vanusa ficou esperando por algo mais. O que havia de tão ruim com o Sr. Andrade comendo com eles? Geralmente apenas o nível operacional fazia o famoso café da tarde. Aquela pausa rápida para comer um pouco, antes de continuar cumprindo hora. O rosto de Vanusa deve ter demonstrado sua curiosidade. Pois a linha firme, sem sorriso de Joyce se apertou mais.

– Você não se incomoda?

A digitadora deu de ombros. Ela quase nunca falava com ninguém mesmo. Com exceção de Joyce. Ela era a única com quem tinha qualquer tipo de interação. Joyce se aproximou mais de Vanusa, olhou para os lados, e quando percebeu que estavam sozinhas sussurrou ao seu ouvido.

– Ele rumina.

– Ele o que?

– Rumina. Como uma vaca. Morde, grunhe e masca. Morde, grunhe e masca.

Os lábios de Vanusa tremeram. Ela segurou a risada.

– Então ele bebe algo com goladas.…  É tão irritante. As vacas sabem ruminar de forma mais educada que ele. É até bonitinho de ver.

Risos fracos e inocentes. Vanusa não aguentou e o riso mudou para algo mais do que inocente. Joyce lançou um olhar de “você vai ver”, e foram para a cantina preparar seu próprio lanche. Os funcionários começaram a chegar, a sentar nas mesas. Vanusa, Diogo e Joyce sentaram em uma mesa afastada, pegaram seu lanche e quando estavam se preparando para comer, alguém se sentou na mesa. Vanusa e Joyce se entreolharam. Foi como se ele tivesse sido invocado e atendeu ao chamado: Sr. Andrade. Ele cumprimentou a todos, ofereceu algumas poucas palavras e começou a comer.

O Sr. Andrade se sentou ali porque poderia comer rápido e voltar para seu trabalho. Ali estavam os menos falantes da empresa.

Morde, grunhe e masca. Gof gof gof. Morde, grunhe e masca. Morde, grunhe e masca. Morde, grunhe e masca Gof gof gof

Vanusa parou com o pão a centímetros de sua boca aberta. Ela tentou manter a postura, mas a voz de Joyce voltava a sua mente. Ela olhava para o homem comendo de boca aberta. Os pedaços do pão dissolvidos e a vista de todos. Joyce estava de olhos fechados, apertados. Ela já tinha reparado e evitava olhar.

Morde, grunhe e masca. Gof gof gof. Morde, grunhe e masca. Morde, grunhe e masca. Morde, grunhe e masca Gof gof gof

A imagem de uma vaca surgiu em sua mente. E cada barulho, a cada grunhido, a cada mordida, ela via aquela vaca no lugar do Sr. Andrade. Joyce a cutucou por debaixo da mesa para que Vanusa continuasse comendo. Olhava para Joyce e mantinha um mantra na cabeça: comer em silêncio!

Morde, grunhe e masca. Gof gof gof. Morde, grunhe e masca. Morde, grunhe e masca. Morde, grunhe e masca Gof gof gof

Sr. Andrade terminou seu lanche com um ultimo gole de suco, se despediu, levantou e partiu. Tão logo saiu da mesa, as duas se entreolharam. Começaram a rir, ficaram assim por mais um tempo. Diogo estava frustrado. O que tinha acontecido. Joyce ia finalmente falar algo, quando Vanusa a atravessou.

– Vaaaacaaa! Muuuuuuuu!

BF

05-2015

Ícaro Quer Voar!

Ícaro abriu a boca pela terceira vez e gritou contra a almofada. As lágrimas encontrando o material macio. Ele sufocava em meio a sua voz abafada e as lagrimas que o afogavam. O cobertor enrolado acima dele, como um grande escudo. Ele gritou mais uma vez quando as vozes de batidas de portas, seus pais brigando um com outro, fizeram-se mais alto.

Ele conhecia aquela melodia já fazia alguns tempos. Sua mãe iria jogar coisas pela casa. Quebrar frascos, vasos, jogar coisas na parede. Não. Não havia mais decoração. Seu pai havia garantido isso. Então como não tinha mais o que jogar, ela o arranhava, batia no homem que ela amava. Ela amava?

 Ele ergueu o rosto do travesseiro. O silêncio momentâneo. Estava chegando do final do ato. Que era quando o pai ou sua mãe simplesmente saia da casa, frustrado, enfurecido. Ícaro pulou fora da cama e enrolou seu cobertor contra seu corpo, embolando o tecido, agarrou-o como se fosse sua ancora. Ícaro deitou como um feto agarrando o cobertor e voltou a apoiar o rosto contra seu travesseiro. Se ele gritasse agora, se explodisse sua dor contra aquele amontoado de penas, não chamaria a atenção para si.

 O grito subiu as escadas e parecia que uma banshee gritava diretamente em seu ouvido. Mas aquilo era apenas sua mãe enraivecida. Talvez por que seu pai não revidasse, talvez pelo silêncio dele, ou apenas, sua falta de reação para suas ameaças.

 O peito de Ícaro comprimia-se toda vez que eles brigavam, mas depois da última porta bater – a da sala – com sua mãe partindo para a noite, longe de casa e da família. Seu pai subia as escadas de dois em dois. Ele gostava quando era a mãe que saia, porque sempre quando seu pai chegava ao seu quarto, ele não fingia. Luca abriu a porta do filho e foi até sua cama.

 Ícaro deu espaço para o pai deitar na cama. Eles deitaram de bruços e ficavam sem se falar. Até que Ícaro virava-se para olhá-lo. Luca chorava em silêncio, as lágrimas fugindo pelo seu rosto, misturando-se com as que ele outrora já havia deixado. E deixando o corpo relaxar, ele finalmente falava algo.

 – Me perdoe.

 Luca levantava, beijava a testa do filho, deixando que alguma lágrima insistente caísse contra o rosto de Ícaro. Secava-a com a palma da mão e voltava para o próprio quarto, para esperar sua mulher voltar.

BF

05-2015

Como me matei? Como ele se matou?

A você que está lendo esta carta. Saiba: Eu morri! Morri… morri…

Quando acordei hoje tive uma ideia absurda. Uma ideia cheia de graça. Se hoje eu morresse quem viria ao enterro? O que falariam no meu tumulo?

Contariam piadas? Veriam o gato que dorme na lapide e espera que os chorosos venham lhes dar comida?

Eu queria saber. Viver e esquecer que vivi. Por isso pensei e obriguei ao meu coração: pare de bater.

Disse ao meu sangue: pare de circular.

Disse ao meu cérebro: pare de pensar.

Agora, caro leitor, faça um minuto de silêncio pela morte do meu sistema. Mas não pare de ler. Tenha respeito. Eu morri!

Vê o sangue nesta carta? Sangue seco – eu espero que não morno – que mancha a carta.

Eu realmente gostaria de saber, o que diriam no meu enterro.

Então decidi: irei morrer hoje e ouvir. Mas como? Obriguei ao meu corpo: ouvidos não parem de funcionar.

Pensei em me cortar, atear fogo, tomar pílulas a mais, beber até cair, me drogar, colocar uma corda no teto e me jogar. Até pensei em entrar me uma banheira e colocar uma torradeira ligada dentro.

Triste ilusão. Sou pobre e não tenho nem banheira, nem torradeira. Então como todo bom pobre, morri: Fechei os olhos e obriguei meu corpo a parar.

Por isso…

ADEUS!

O AVESSO

O barulho da sirene era alto. Cheio de sons que incomodam. Ligaram para a delegacia dizendo: “Alguém morreu. Foi suicídio!!

Se alguém morre, deixe o pobre coitado morrer em paz!

Procurei a carta que dizia que era suicídio. Suicidas deixam cartas. Tem a necessidade de dizer: Ei me matei por que meu gato não me ama mais… Enfim, deixam pistas.

Cheguei na casa e não deixei ninguém entrar. Andei pela casa e procurei por um corpo. Não encontrei nenhum. Paredes vazias, tintas deixadas de lado, uma mesa e uma cadeira.

Quem foi o pobre coitado que morreu e não deixou o corpo, ou carta… ou sangue?

O banheiro vazio, a sala vazia, a casa inteira vazia.

Nada, além da cadeira e da mesa. Irritado, chutei a cadeira. Ela quebrou, frágil. E a farpa dela cortou minha canela. Peguei minha caderneta, arranquei uma folha e limpei a ferida.

Olhei para o sangue no papel. Agora havia mais um corpo vivo.

Escrevi uma carta de despedida. Pintei a tão sonhada banheira no azulejo do banheiro e a tão adorada torradeira na parede da cozinha.

Deitei no chão e fechei os olhos.

Agora era uma cena do crime decente: dois corpos e uma carta do meu adeus.

E morri junto com minha cadeira quebrada, ao redor, em pedaços, em frangalhos que somente eu saberia o que lhe aconteceu.

Hoje morreu um fantasma, um policial, uma cadeira e um papel.

BF

2014

Tudo Aquilo Que Jamais Vi

Tic-toc! Trava o relógio na parede. Um, dois, três, quatro… Os olhos buscam respostas. Contam aflitos o movimento do relógio. O som dos carros à distância são a orquestra da vida. A televisão do vizinho zune alta como se estivesse do seu lado.

Ela está ali, sentada. Vestido vermelho, cabelos caídos. Olhar preso no relógio da parede. Ela vê o movimento sem nem ao menos enxergar. Um aperto no peito, agonizante, doloroso. Falta o ar. Ela passa a mão pelos cabelos, aflitos.

Desliza pelo vestido, arranca! Rasga!

Ela coloca a língua entre os dentes, morde. Empurra para fora e toca o ar. Sem gosto. Ri sem humor. Muito na cabeça, pouco no coração.

Mesmo assim não pensa. Sangra!

Ela encosta a testa no azulejo frio. Estava escuro, mas então ela olha de novo e vê. Paredes brancas. Não, amarelas. Ou eram verdes?

O som muda. Não há mais buzinas, nem a roda deslizando no asfalto molhado. É música, é clássica. As roupas estão erradas.

Era um vestido, não vermelho, não preto. Era veludo, era verde. Com pedras brilhantes e no cabelo, uma rosa no coque.

A música muda e ela caminha. Estende as mãos aos céus. Não há mais paredes. Há areia pinicando os pés. O sorriso desenha nos lábios a promessa de felicidade.

Ajoelho e chora. Contente. Ouve a missa, ao fim, fiz amém. Mãos aos céus, coração a mil.

A chuva limpa a maquiagem do rosto e faz o vestido ficar pesado. É difícil levantar. Missão complexa. Não importa. Há paz. Há felicidade.

O mundo treme no céu e atinge o chão. As palmas e o alvoroço é gigante, tanto quanto o céu que desaba.

Ela caminha com certeza onde quer chegar. Ou onde foi ordenada que fosse. Cabelos brancos a saúda na chegada. Ela sorri, ele também. As rugas não diminuem a beleza do azul céu em seus olhos. Apenas o realçam.

No mundo que ficou para trás, ela ouve outro amém. Então ri e se desfaz em sua própria risada.

Quando para, não sente mais a areia e não há mais cabelos brancos.

Sua mão alcança o peito e o céu agora cai de seus olhos. Ela chora, incerta e também com toda a certeza do mundo. Não há missa, não há areia. Também não há mais agonia, nem dor.

Encosta a cabeça no espaldar do sofá e volta a ouvir: o carro passando na rua, a televisão do vizinho. Conversas na rua e o relógio gritando silenciosamente: tic-tac…tic-tac…tic-tac!!!

Ele para e procuro nele o segundo em que voltou seus olhos para o passo. A lembrança é firme, é cheia de carinho. É delicioso e sem sentido. E ela quer experimentá-la de novo. Lembrar de tudo àquilo que não viveu. Lembrar de um tempo em que lhe era permitido chorar e festejar. Em que não havia condenação, nem preocupação.

O vestido ainda está no chão. Inteiro e também decomposto.

O peito quente, o corpo frio. Os lábios tremem… Um murmurar: mais.

Então tudo começa: Tic-toc! Trava o relógio na parede…

BF

2014

Fundo do Mar

Antagonismo de sabores, sons, cores e vida. Quando ouvir sobre o fundo do mar, a mente viaja pelos corais e peixes multicoloridos. Dos mais frágeis aos perigosos. Dos minúsculos aos gigantes. A mente trilha caminhos bonitos e ilusões de bem-estar rodeados de calor materno. É assim que um feto sente? O impulsionar da pressão vinda de todos os lados, apertando e suprimindo.

As amarras dispostas em cada ponto do corpo, as variações dos sentimentos impulsionando e bombeando o sangue mais rápido.

Não. Quando a mente viaja para o fundo do mar é como o fechar de olhos. Sem cor, sem vida, sem movimento.  E o mundo sem ar sem som. Como um vegetal. Estender as mãos pelo desconhecido.

Nada.

Não há nada ao redor, mas tudo te espreita. O peito aperta o coração e manda inquieto: morra. Mas então a luz aparece. Distante e distinta. E você sabe que não é a salvação que vem. Não há coragem para falar, para interagir. As correntes rodeiam e impulsionam o corpo mais para o fundo.  Para um lugar que você sabe que não tem fim…. Não tem porque lutar. Não há dor ali, há ossos para roer e roer e roer e você não precisa se perguntar quem são ou o que foram.  Você sabe. Você sente.  Você entende.

E mesmo que tenha o conhecimento, mesmo que saiba o que tem que fazer. Que as palavras rodeiam sua mente e diz exatamente como agir, como viver. Não há reação.  As correntes te pressionam, o tempo passa, a luz alva vai embora. Ainda está remoendo. Ainda está doloroso. Mas não importa. Você já se acostumou com a dor. Dentes de tubarão ao seu lado. Basta erguer a cabeça e acabar com tudo. Mas não há coragem.  Não há forças para realizar o que deve ser feito.

Outra luz aparece, te ESPREITANDO, clamando. Você não quer. Não.  Você quer. Você anseia, só para finalmente perceber que você não sabe nadar. E quando busca por outra vida, busca ajuda e olha para o mundo ao seu redor. Ele está vazio. E você quer acreditar e ver os corais coloridos e viver entre eles.

Mas quanto mais anseia, mais caminha para o fundo. Arrastado pela correnteza que antes não existia. Aquela correnteza criada por ti. E você chora por dentro porque as lágrimas não funcionam aqui fora. Quando sobe até o topo para buscar ar, e olha a si mesmo. Oh dor, esta imundo, quebrado, inutilizado. Ninguém irá desejar algo fútil. E você quer se banhar para limpar essa podridão, mas sabe que se voltar para o único ligar que conhece, as águas do mar não serão a solução para pureza.

Então com ar o suficiente para mais um mergulho sem fim, desce, desce sem parar…

BF

05-2015

UM ALGUÉM

A chuva não é obstáculo, pois ele chega sem se incomodar. Calma em pessoa, caminha com tranquilidade pelo espaço. Tem jeito de vô. Dá vontade de abraçar. Mas não é qualquer vô. Ainda não tem os cabelos branquinhos. É austero e sério. Aquele que quando você olha, impõe respeito.

É silencioso e seu olhar tem misto de seriedade e calma. É como uma balança que o equilibra. Cumprimenta o amigo e todos percebem, é divertido, gosta de uma boa piada.

Cabelos quase brancos, alguém vivido e através da cor de sua camisa exprime a energia do espaço-tempo. Universo

Coloca os óculos e se prepara para escrever. Compenetrado! Tinge sua seriedade com momentos de alegria e nostalgia.

BF

03-2015

ESQUERDA E DIREITA

Querido diário,

Hoje a Dessa teve que buscar meu irmão na escola, porque ele brigou com o Rafael. Eu achei que foi errado, porque o Rafael vive lá em casa. Mas a Dessa fez bolo de abacaxi com aquela calda doce que escorre na borda. Disse que só podia comer se não brigassem mais. O Rafael e o Gil comeram juntos.

Eu não queria bolo de abacaxi, eu queria o de chocolate.

Nós ficamos brincando e a Dessa brigou comigo de novo porque eu não comia. Eu queria comer. Estava com fome. Mas o vovô não tinha chego. Ele veio mais tarde e foi direto pra cozinha. O vô me deu o almoço. E voltei a brincar. Estava brincando no quintal quando o monstro verde apareceu. Eu gritei pela Dessa, mas o Gil fechou a porta da cozinha. E o monstro vinha na minha direção. Eu corri pelo quintal, quando a Dessa apareceu e brigou com ele porque ele fechou a porta. Me escondi atrás das plantas da mamãe, e tomei cuidado pra não quebrar a planta. Se não….

Depois a Dessa leu a Bela e a Fera comigo. Eu li sozinha enquanto ela apontava para as palavras. Estou aprendendo. Lá na escola, a professora sempre leva algo novo.

Boa Noite

Segue a história de uma criança de quatro ou seis anos? Ela fala sobre o seu dia, quando a babá Dessa cuida de dois irmãos. O mais velho chamado Gil e a mais nova que é a escritora. A menina não entende porque o irmão brigou com o amigo, mas sabe que se eles fizerem as pazes, poderão comer o tão adorado bolo da babá.

Além disso, ela esperava ansiosa a chegada do avô, com quem ela sempre almoçava, não importava o horário que chegava. Se no horário do almoço, tarde do dia ou no final da noite. A menina geralmente brincava sozinha ou com o irmão. Mas durante uma brincadeira algo a surpreendeu. Um sapo gigante aparece no quintal e, com medo, foge a se esconder atrás das plantas. Seu irmão, divertindo-se com o medo da mais nova, impede que ela fuja para dentro de casa.

Ao final do dia, ela mostra a babá que já consegue ler e faz a leitura de um livro de contos de fadas, contente por ler para sua amiga.

BF

03-2015

PÉS GIGANTES

Estava minúscula em comparação ao mundo.

Ela estava na cidade fugindo dos pés gigantes que passeavam

sem perceber quem era a pequena menina que estava ali.

Tão pequena e tão indefesa.

Mas também ela via a si mesma, ao mesmo tempo,

enquanto fugia dos pés, dentro da maquete da pequena cidade,

que não era mais gigante.

Lá, estava ela sobre uma maquete, vendo as pessoas grandes

andarem pela cidade e aquele minúsculo ponto era ela:

a minúscula menina fugindo dos pés gigantes

BF 

03-2015

GENESIS

Sou o pesadelo de muitos, mas também sou o protetor das crianças. Quando temido ou temem, vestem a minha pele. Faço parte do viver, do coração, das noites de amor e das noites de traição. Sou observador presente.


Sou a vastidão e o infinito, mas também sou aquele canto que ninguém quer. Há apreciadores. Cumprimento você a cada segundo, sem que você perceba. Estou aqui, dentro e fora do seu ser. 


Vista minha pele quando o barulho do lado de fora o incomoda. Feche os olhos e lá estarei. Sou apreciado, e também temido. Sou incompreensível, mas tenho admiradores pelo mundo afora. 



BF
03-2015